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Uma agenda do tamanho da Baixada


Três ações, com participação do FGB, ocorreram no penúltimo sábado de setembro.

O penúltimo sábado de setembro foi marcado por atividades importantes nas quais o Fórum Grita Baixada (FGB) esteve envolvido. O primeiro deles foi a 5ª. Caminhada pela Paz, em São João de Meriti. Promovido pela Paróquia Nossa Senhora da Conceição em Coelho da Rocha, São João de Meriti (Diocese de Duque de Caxias), a caminhada nasceu da necessidade dos católicos em denunciar a situação de violência na região. Padre Paulo Reis, sacerdote da paróquia Coelho da Rocha, explicou que tornou-se comum o pedido dos fiéis por missas de sétimo dia de adolescentes e jovens, em sua maioria vitimados pela violência urbana. Diante deste quadro as comunidades se reuniram e uma das ações concretas foi a realização, anual da caminhada pela paz para chamar a atenção da sociedade para tal situação.

Como o Grito dos Excluídos deste ano trouxe como tema a relação da desigualdade social com a violência, optou-se por fazer da caminhada pela paz um ato de encerramento do primeiro Grito dos Excluídos da Baixada Fluminense. Um aspecto importante do Grito é que, apesar de ter nascido como ação concreta da Igreja Católica, ele foi ganhando cada vez mais adesão de movimentos populares de toda a América Latina e hoje é uma manifestação de todas e todos aqueles que necessitam gritar contra as desigualdades, injustiças, privilégios e discriminações.

Tendo como local de concentração o espaço em frente a Escola Amiga do Saber, no Parque Alian, moradores e  representantes de organizações levaram faixas e cartazes que denunciavam o descaso do poder público com a população mais pobre, a brutalidade da violência que tira a vida de muitos, em especial dos pobres, negros e moradores das periferias de nossas cidades, a violência contra a mulher, a população LGBT, crianças e idosos, o abandono da educação e da saúde pública, a dificuldade da mobilidade urbana, com destaque para as más condições de infraestrutura dos trens da SuperVia que vitimam também os moradores da Baixada, a depreciação dos espaços de lazer e de convivência, a falta de atenção com o meio ambiente, o saneamento e as ameaças representadas pela poluição da terra, da água e do ar.

Algumas das falas chamavam a atenção sobre a importância dos eleitores em votar consciente, de forma responsável, pois muitos dos problemas apontados nascem tanto da falta de participação popular efetiva nos rumos da cidade, quanto do descaso de políticos profissionais, aqueles que entra e sai ano são reeleitos e pouco contribuem para uma cidade mais justa e digna.

À tarde foi a vez da exibição e debate sobre o documentário Nossos Mortos Têm Voz. Apresentado pelo Fórum Grita Baixada, Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu e realizado pela Quiprocó Filmes, o filme foi exibido pela primeira vez em Japeri no espaço do Grupo Código.

A narrativa do documentário se dá a partir do depoimento dos familiares e vítimas da violência de estado da Baixada Fluminense. Tendo como ponto de partida, mas não se limitando à crueza da violência praticada, o curta pretende trabalhar com as histórias atravessadas por essas perdas. A partir do depoimento dos familiares e imagens de arquivos pretende-se resgatar a memória dessas vidas interrompidas trazendo uma visão crítica sobre a atuação da polícia na Baixada Fluminense, sobretudo no que diz respeito a violência contra jovens negros. 

Há de se destacar que o Grupo Sociocultural Código é uma associação cultural sem fins lucrativos fundada em 2007, a partir da Cia Código de Artes Cênicas, formada por jovens artistas de diversas cidades da Baixada Fluminense. Além de atores, músicos e cantores, os integrantes do grupo também se destacam na área da educação: há professores do ensino público, pedagogos e agentes culturais atuantes em outras instituições de ensino. 

O objetivo da instituição é facilitar o acesso à arte e aos bens culturais aos moradores da cidade de Japeri através de duas frentes de trabalho: A primeira é a Cia. Código de Artes Cênicas, companhia profissional já reconhecida e premiada na Baixada Fluminense e no estado, e o Espaço Cultural Código, com a manutenção das oficinas de teatro gratuitas para a comunidade. Nos últimos anos, mais de 10 mil pessoas passaram pelas oficinas, espetáculos e eventos produzidos e apresentados pela instituição.

Por fim, durante todo o dia ocorreu o encerramento do curso “Análise de Conjuntura: como e pra quê?, no Centro de Formação de Líderes (CENFOR) de Nova Iguaçu, em que algumas organizações se prontificaram a fornecer ferramentas para que participantes pudessem avaliar de forma criteriosa os cenários de turbulência social, política e econômica.

Idealizada pelo professor de Educação e Filosofia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro da Coordenação Ampliada do Fórum Grita Baixada, Percival Tavares, os participantes do curso foram convidados a analisar as Eleições 2018 sob os aspectos do acontecimento e seus diversos componentes tais como fatos, fenômenos, problemas ou situações. A partir daí foi feito um estudo de processos de interação visando a identificação de pontos de tensão e contradição no cenário político atual. Os atores responsáveis por cenários de instabilidade política também foram apresentados e analisados criticamente.

“Acho que foi uma oficina muito proveitosa, pois foi uma demanda da base. Trouxemos elementos do cotidiano e utilizamos a filosofia de Gramsci, que preconiza que todos são intelectuais e capazes de produzir o próprio conhecimento, como arcabouço teórico-metodológico. A construção desse curso veio a partir de interesses dos atores populares, de necessidades e perspectivas vindas diretas deles”, explica Teresa de Marins, pesquisadora do Núcleo de Estudos em Filosofia e Educação (Nufipe) da Universidade Federal Fluminense (UFF).   

Além do Fórum Grita Baixada, vejam as organizações que participaram das atividades

5ª. Caminhada pela Paz
Paróquia Nossa Senhora da Conceição (Coelho da Rocha), Pastoral Operária, Pastoral da Juventude, o Movimento Pró Saneamento (MPS), Casa Fluminense, Movimento Rio Por Inteiro

Análise de Conjuntura: como e pra quê?
Núcleo de Filosofia e Educação da Universidade Federal Fluminense (Nufipe), Pastoral Operária da Diocese de Nova Iguaçu e Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE-RJ)

Cine debate Nossos Mortos têm Voz em Japeri
Quiprocó Filmes, Cine Belém, Espaço Cultural Código, Casa Fluminense 

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Trailer do filme Nossos Mortos Têm Voz (abaixo)



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