Pular para o conteúdo principal

Debate sobre descriminalização das drogas avança na BF


Segunda parceria entre Fórum Grita Baixada, Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu e a Igreja Católica da Baixada Fluminense traz especialistas à Diocese de Duque de Caxias para conversa sobre possibilidades de legalização. 

No último sábado (18/11), uma inciativa da Diocese de Duque de Caxias/São João de Meriti, através de uma parceria entre o Fórum Grita Baixada e o Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu, reuniu, mais uma vez, alguns dos mais renomados especialistas na área de segurança pública e criminologia crítica do Rio de Janeiro para se discutir as possibilidades de descriminalização ou legalização das drogas e seus efeitos benéficos para a sociedade, especialmente no que tange à redução da violência e à cultura da vida. Repetindo o sucesso de sua primeira edição, ocorrida em 27 de outubro na cidade de Nova Iguaçu (inserir link) , o Seminário Política de Drogas e Violência: um debate necessário fez o público pensar e se interessar sobre essa nova percepção. Prova disso foram mais de 20 perguntas enviadas aos debatedores.

O debate serviu para demonstrar que todos os esforços, em termos de repressão, como política de segurança pública se mostraram falhos em planejamento e execução em quase todas as esferas. Desde o sistema carcerário, que além de estar superlotado e em degradação, trancafia apenas negros e os mais pobres, até os investimentos em armamento que ultrapassam a cifra do bilhão de reais para militarizar favelas e outras comunidades periféricas, mas são sempre insuficientes para outros setores primordiais como saúde, educação, cultura e lazer. Isso sem falar do Poder Judiciário que, na opinião dos palestrantes, é um sistema racista, classista e só privilegia os mais endinheirados.    

A seguir, um resumo das considerações feitas pelos palestrantes.

Luciana Boiteaux – Professora de Direito Criminal da UFRJ – “Existem mais países signatários de tratados de combate às drogas do que países membros da ONU. Nos últimos 100 anos de políticas proibicionistas, temos duas notícias em relação a isso: aumentou o número de pessoas encarceradas de forma sistemática, mas ao mesmo tempo hoje o mundo inteiro está repensando esse formato de estratégia de repressão. Enquanto política de saúde, não só não conseguimos acolher os viciados, como permanece a alta lucratividade de quem vende drogas ilícitas. Muitos viciados querem buscar a cura, mas têm medo de procurar postos de saúde ou centros de recuperação, pois eles pensam que são criminosos e que ao aparecerem nestes lugares serão presos automaticamente. O Estado é incapaz de fornecer qualquer tipo de resposta em relação a questões de saúde pública dessa natureza, pois não pensa em investir em prevenção. E quando se fala de prevenção não estamos falando de um Policial Militar entrar em uma sala de aula de uma escola pública de uma favela e dizer “que quem consumir droga, vai se preso”. Temos que tirar de uma vez por todas da legislação a premissa de que o usuário deve sofrer consequências penais apenas por ser usuário.”.

Ricardo André de Souza – promotor da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. – “Ao apresentar a questão das drogas apenas como uma política de segurança pública, aumentou a matemática perversa das prisões no Brasil. Antes de ser instituída a Lei de Drogas em 2006 , fizemos uma pesquisa, baseado em dados do INFOPEN . De 2003 a 2013, ou seja, em 10 anos, aumentou em 9 mil o número de presos por porte de drogas ou tráfico. Após a criação da Lei de Drogas, de 2013 a 2016, ou seja, em apenas 3 anos mais de 18 mil pessoas foram presas. Em menos da metade de uma década dobramos a população carcerária do país. E muitas pessoas acham que esse hiperencarceramento. Só no Rio temos hoje 57 mil presos para 25 mil vagas. Passamos do controle da violência para a violência do controle. E esse cenário nefasto se repete também para os usuários de drogas nas unidades públicas de saúde. Não há, por exemplo, um protocolo de atendimento a pessoas que sofreram overdose de cocaína, pois na ótica proibicionista da lei qualquer política pública de acolhimento ou de tratamento com essa especificidade é favorecer a indústria da criminalidade”.

Ibis Pereira -  Coronel da reserva da Polícia Militar – “Vivemos em uma sociedade que produz sofrimento, dor. E as drogas jamais acabarão, pois o consumismo desenfreado nos faz escravos do deus dinheiro. Temos uma Constituição que foi escrita há quase 30 anos e não soubemos aplicar o que está escrito na nossa sociedade, apesar de termos algumas das leis mais avançadas do mundo em termos de bem-estar social. A lógica da Guerra às Drogas nasceu com o presidente Richard Nixon em 1971. Isso só se tornou um problema para os EUA, pois assessores dele inventaram uma mentira de que eles haviam perdido a Guerra do Vietnã por causa do alto consumo de drogas dos soldados norte-americanos. Existia, na verdade, toda uma faceta moralista para se criminalizar o uso de drogas e quem mais a usava que eram os pobres e pretos dos guetos.        

23-11-17 
https://forumgritabaixada.org.br/debate-sobre-descriminalizacao-das-drogas-avanca-na-bf

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Reunião dos núcleos do FGB contou com apresentação de diagnósticos sociais e desafios de articulação nos territórios

22 de agosto de 2017  A primeira reunião dos núcleos que compõem o Fórum Grita Baixada foi marcada por grande interação entre o grupo. As dinâmicas, criadas pelo articulador do FGB, Douglas Almeida, incluíram uma mística de autoconhecimento, um diagnóstico sobre os problemas de cada região, além dos desafios de articulação que precisam ser postos em prática. Antes, a coordenadora do Projeto de Litigância Estratégica, Bárbara Lucas, foi convidada pelo coordenador do Fórum, Adriano de Araujo, a fazer uma breve explicação sobre o projeto que irá ser apresentado essa semana. Ela aproveitou o ensejo e convidou os representantes dos núcleos a chamarem moradores de suas localidades em igual situação.  “É um procedimento em que será feita uma responsabilização dos agentes do Estado, além de fortalecer a Rede de Mães Vítimas da Violência da Baixada através de um acompanhamento visando a reparação psíquica pelas perdas brutais que elas tiveram. Temos um grupo de...

O Estado Brasileiro é julgado por seus crimes

Fórum Grita Baixada e movimentos sociais organizam o Tribunal Popular da Baixada Fluminense, na Praça do Pacificador. Imagine que por um dia apenas, o Estado Brasileiro pudesse ser personificado e, assim como qualquer mortal, responder em juízo por quase todos os crimes categorizados pelo Poder Judiciário ao longo dos séculos. A Praça do Pacificador, em Duque de Caxias foi palco, na última terça-feira, 11 de setembro, de um evento inovador que tentou abarcar tal realidade. Um tribunal popular foi montado para a condenação simbólica de uma entidade que afeta a vida de todos nós. Movimentos sociais como o Fórum Grita Baixada, Movimento Negro Unificado, Rede de Mães e Familiares Vítimas da Violência de Estado na Baixada Fluminense, Centro de Direitos Humanos da Diocese de Nova Iguaçu, Casa Fluminense, dentre outros, simularam um julgamento em que o Estado Brasileiro, na condição de réu, seria responsabilizado pelos seus crimes, especialmente os de genocídio contra a populaçã...

Representante da organização Misereor, financiadora do projeto Fórum Grita Baixada, visita escritório do FGB

Representante da organização Misereor, financiadora do projeto Fórum Grita Baixada, visita escritório do FGB  e participa de reuniões estratégicas sobre balanço de atividades do projeto e análise de conjuntura da região Stefan Ofteringer, assessor de direitos humanos da Misereor, organização com sede na Alemanha que financia projetos sociais, entidades ligadas à Igreja Católica, organizações não governamentais, movimentos sociais e institutos de investigação em vários países no mundo, incluindo o Brasil, visitou há algumas semanas, o escritório do Fórum Grita Baixada, no Centro de Formação em Moquetá. Durante a sua estada, que durou dois dias, participou de duas reuniões, com a executiva e a coordenação do FGB. Nelas, recebeu uma devolutiva de todos os trabalhos realizados nos últimos 6 meses de desenvolvimento do projeto, além de escutar uma análise de conjuntura, especialmente sobre os novos núcleos territoriais. Ofteringer também realizou uma oficina de planejame...